domingo, dezembro 22um jornalista dronista

‘Guerra Civil’ só vale o trailer

Cenas de ação muito bem feitas, consagrando o estilo hollywoodiano, com timings perfeitos e trocas de cenas incomuns e cativantes, com trilhas que se encaixam perfeitamente na situação e no momento, tiros, explosões, imagens aéreas. Fotografia impecável. Esse é o resumo visual de Guerra Civil, que tem Wagner Moura como um dos protagonistas, ao lado de Kirsten Dunst.

Algumas cenas foram construídas mudas de propósito e que atingem o ápice da experiência audiovisual, apesar de serem mudas, como visto logo no começo do longa. Outras mudam repentinamente causando sustos, com sons de tiros, explosões ou mesmo diálogos. A fotografia é linda, movimentos e posições de câmeras, o que também faz jus ao estilo Hollywood.

Mas o filme não prende a atenção. Não tem clímax na história, no enredo; não tem ponto de virada. Ficamos esperando o principal acontecer e, enquanto não acontece, mais da metade do filme é de pura enrolação, como a cena em que a personagem de Cailee Spaeny, Jessie, e o chinês amigo de Joel (Wagner Moura) trocam de carros através da janela enquanto em movimento (uma cena fora de contexto e muito sem graça), só pra justificar o sumiço deles depois. O ponto de virada é a última cena do filme. Típico dos filmes atuais em que mais importa o efeito visual do que a história.

Pouquíssimas cenas tentaram parecer cômicas, não sei se de propósito ou não, mas sem sucesso. Esse filme não é pra rir. É mais um daqueles filmes em que o trailer, as críticas e as entrevistas dos atores são melhores do que o próprio filme.

Se a figura do jornalista era pra ser retratada como fria pelos ossos do ofício, trabalhando no quente de uma guerra civil, ficou mais evidente que pessoas são pessoas como qualquer ser humano e em qualquer situação.

A atuação de Kirsten Dunst, interpretando a jornalista fotográfica Lee Smith, é excepcional. Os sentimentos que ela consegue expressar apenas com um olhar é emocionante, transmitindo uma personagem sensata e vivida. Wagner Moura, como Joel, para nós brasileiros, é a extensão do figurão de Tropa de Elite e fica quase em segundo plano. Foi à toa que deram a ele o estereótipo do jornalista ‘porra louca’?

Apesar da enrolação, o filme é ótimo em nos fazer refletir sobre a nossa própria condição enquanto sociedade civil. Os extremismos e as polarizações causadas por embates políticos e ideológicos evidenciados no filme e dos quais vivenciamos nos últimos tempos em todo o mundo nos obriga a repensar nossas atitudes enquanto sociedade.

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