domingo, dezembro 22um jornalista dronista

‘Meu nome é Gal’: percepções

Feito pra quem já conhece pelo menos um pouco da história da MPB nas décadas de 1960 e 1970, o filme dirigido por Dandara Ferreira e Lô Politi deixou pontas soltas, da bossa nova ao tropicalismo, pois as histórias e os personagens são apresentados meio que jogados ao vento. Saca quem conhece a história. Realmente foi preciso estar atento e forte. Mesmo assim não deixou de ser emocionante.

O longa conta a história de Gal desde a chegada ao Rio de Janeiro até a sua explosão na música brasileira, já com Caetano e Gil exilados em Londres.

Maria Bethânia ficou meio apagada na história. De fato ela não participava dos movimentos sugeridos pelo grupo tropicalista, mas certamente ela teve uma participação maior na vida pessoal de Gal Costa que o filme não retratou.

A fotografia, muito bem feita, é linda. A atuação do elenco foi uma das coisas mais plausíveis. Foi notório o empenho de cada um ao personificar os nomes emblemáticos da MPB da época. Os mais evidentes foram Caetano, interpretado por Rodrigo Lélis, e Bethânia, interpretada por Dandara Ferreira, sem contar a própria Gal Costa, interpretada por Sophie Charlotte. A semelhança no modo de falar e nos trejeitos de cada um foi o mais tocante, apesar de só ter essa percepção quem já conhece os personagens assim como eles eram nessas décadas.

É interessante notar também que, como o filme é sobre Gal, a história permeia somente nela e os eventos que acontecem com as pessoas próximas se desenrolam a partir do ponto de vista de Gal, como se o espectador estivesse olhando a cena através de seus olhos e suas percepções.

As cenas de estúdio são as mais emotivas. Quando Gal e Caetano gravam seu primeiro disco juntos, a atuação dos dois somada à trilha sonora com música original embalam a ótima atuação de Sophie Charlotte e Rodrigo Lélis. A cena da gravação da música Baby é a mais envolvente e de encher os olhos d’agua. Também as cenas que abrem e fecham o longa, de Gracinha, ainda criança, buscando reconhecer a sua própria voz cantando dentro de uma panela maior que ela mesma, realçam a força e a vontade que Gal Costa tinha de se tornar cantora desde muito pequena.

O resgate de cenas originais da época da ditadura e das ruas do Rio e de São Paulo também dão um brilhantismo e um contexto à história. As músicas originais, com as vozes originais de Gal, emendadas com as produzidas para o filme também tem um charme e uma elegância especial e envolvente.

O que mais me marcou no filme foi apartamento de Caetano Veloso em São Paulo, que muito bem aparece como ele descreveu em seu livro Verdade Tropical. Manequim, lâmpadas coloridas, poltrona de acrílico colorida, uma sacada enorme e muita festa.

Tive a oportunidade de assistir ao último show da vida de Gal, no Festival Coala em setembro de 2022, na cidade de São Paulo. Magnética, vaca profana, sua voz ao vivo entrou nos meus ouvidos como veludo, suave e consistente, somada à grande produção do show. Nesse show tive a oportunidade de cantar junto com ela canções que mexeram com a sua cabeça e sua vida, em uma época de muitas incertezas para o país e para a cultura brasileira. Que Gal Costa viva para sempre na história e na música.

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