Pacientes sentem-se mais à vontade na hora de decidir por uma cirurgia ao conhecer técnicas e resultados positivos.
Conhecida pelo nome popular de cirurgia de ‘redução de estômago’, a cirurgia bariátrica vem ganhando novas técnicas e acumula cirurgias bem-sucedidas ao longo das últimas décadas no país. A grande quantidade de informação disponível e o crescente acesso ao procedimento é o que explica o salto de 34 mil cirurgias realizadas em 2011 para quase 65 mil em 2018, só no Brasil, com taxa de mortalidade de que varia entre apenas 0,1% a 1%, de acordo com o portal Drauzio Varella.
Mas os cuidados são muitos, principalmente após a cirurgia. Operado há 16 anos, José Eduardo da Silva Magri conta que na época existia apenas um tipo da cirurgia bariátrica, mais invasiva, denominada ‘capella’ ou ‘balão gástrico’.
O procedimento e os resultados da época são praticamente os mesmos encontrados nos dias de hoje: divide-se o estômago em uma parte grande e outra pequena, costurando então a parte pequena diretamente ao intestino, reduzindo definitivamente o tamanho do órgão.
“Na época era muito arriscado fazer a cirurgia e a adaptação no pós-cirúrgico também era um pouco mais demorada. Eu fiquei 3 meses apenas com alimentação líquida depois da operação”, conta Magri, hoje com 34 anos de idade.
Apesar disso, José Eduardo diz que a decisão pela operação foi necessária à sua própria saúde, já que tinha problemas de locomoção e comorbidades causadas pela obesidade.
Andreia Assis Feitosa, também com 34 anos de idade, se submeteu à cirurgia bariátrica há poucos meses. A técnica usada na cirurgia de Andreia foi a ‘bypass gástrico’, que é o grampeamento de parte do estômago, reduzindo o espaço disponível para os alimentos. Ela conta que a técnica foi definida pelo corpo médico especializado, de acordo com exames e acompanhamentos pré-operatórios e no tipo de resultado que os médicos esperavam alcançar com a cirurgia.
“O principal motivo de me fazer buscar a cirurgia foi por não conseguir mais obter resultados de emagrecimento sozinha com alimentação regrada e exercícios físicos”, conta Feitosa, acrescentando que também percebeu um aumento de doenças relacionadas à obesidade nos meses anteriores à cirurgia.
O avanço da tecnologia na medicina ajudou para que esse procedimento fosse menos invasivo e com menos tempo na recuperação pós-cirúrgica. Andreia diz que ficou apenas 15 dias com dieta líquida, frente aos 3 meses que José Eduardo teve que encarar com a mesma dieta 16 anos atrás. Mas isso também depende muito de cada pessoa e cada organismo e como ele vai responder ao procedimento.
Como fica o psicológico e onde buscar informação
O acompanhamento psicológico também se torna aliado para um procedimento bem-sucedido. Segundo Andreia, “o maior preparo é o psicológico: ter consciência de que os hábitos pós-cirúrgicos obrigatoriamente serão outros e que é uma decisão que vai te acompanhar para sempre.”
“Eu tive acompanhamento psicológico antes de fazer a cirurgia, mas depois dela não foi necessário, pois minha satisfação pelas melhorias era grande”, relata José Eduardo. Apesar disso, ele diz ter que adaptar uma nova alimentação e aprender a não comer alimentos que não consegue mais, como o arroz.
Saber onde se informar, pesquisar e se atualizar sobre o assunto é a principal medida para obtenção de fontes de informações verdadeiras. Andreia relata que antes da cirurgia consultou pessoas próximas a ela que realizaram o procedimento e que consumiu bastante conteúdo de fontes confiáveis. “Quando fui operar eu já estava bastante consciente do que poderia ou não acontecer no pós-operatório”, conta ela.
Uma das dificuldades encontradas por Andreia no pós-operatório é a suplementação de proteínas. Após a cirurgia, a absorção delas diminui drasticamente, tornando a necessidade de se fazer a suplementação um hábito diário.
Lidando com preconceito e quebrando tabus
Tanto José Eduardo quanto Andreia relatam ter passado por pelo menos uma situação constrangedora relacionada à cirurgia bariátrica. “No início foi um pouco mais difícil e eu reagia até grosseiramente quando me deparava com uma opinião de alguém desinformado. Hoje, depois de pouco mais de 90 dias da cirurgia, lido melhor. Consigo compreender a falta de informação, de conhecimento e os fantasmas que permeiam o imaginário das pessoas causado pela disseminação somente dos casos que ‘deram errado’”, conta Andreia.
José Eduardo conta que até hoje algumas pessoas olham para ele com diferença. “Algumas pessoas me olham com cara de susto ou de espanto ao ver a pele ou a cicatriz. Mas quando me perguntam algo pessoal eu tento orientar a pessoa a se informar mais”, diz José Eduardo. “Muitos acham que é só pela estética e ficam criticando”, conclui.
Perguntados pela reportagem o que os entrevistados poderiam dizer àquelas pessoas que querem realizar a cirurgia, mas não o fazem por medo com as questões de saúde ou por mero preconceito, os dois foram unânimes em dizer para que todos busquem informação. “Busquem principalmente relatos de pessoas que fizeram a cirurgia”, diz Andreia fazendo um apelo pela busca de informação.
“Na minha família somos 5 pessoas operadas. Eu sempre indico a cirurgia se a pessoa estiver bem esclarecida. Mas se não estiver, eu tento orientar a pessoa a se esclarecer, do contrário tento dizer a ela para não fazer a cirurgia”, diz José Eduardo.
A busca pela informação e a orientação multidisciplinar médica, com cirurgiões, psicólogos, médicos especialistas, e também com pessoas que passaram pela experiência da operação são a chave para espantar os fantasmas e os tabus relacionados à cirurgia bariátrica, bem como a quebra de preconceitos que rondam a sociedade sobre o tema.